Parece tão distante

Pareço uma louca e tenho noção disso. Deixo-me ir. Quantas vezes tenho momentos destes? Isto foi a minha infância e essa não volta a acontecer. Não há nenhum botão que me leve para trás no tempo. Só tenho as memórias disso e do quão bom foi. Parece tudo tão distante. E, se calhar, até é. Sinto o vento empurrar-me o cabelo para longe do rosto. Sinto o meu cabelo esvoaçar. Sinto os pés largarem o chão. As minhas mãos seguram firmemente aquilo que me impedirá de cair. Sinto-me a voar. E a sensação é indescritível. Fogem-me as palavras. E pensar que tudo isto já fez parte do que eu fui e daquilo que sempre serei. Como é que o tempo passou tão rápido? Cresci tanto, que o meu corpo já mal cabe neste baloiço. Cresci tanto que a minha mente já não vê isto como uma simples brincadeira. Cresci tanto que os meus olhos veem o chão ainda mais longe do que antes. Cresci tanto que o meu grito já não soa tão criança lá no alto. Cresci tanto que os meus pés pouco longe do chão ficam. Cresci tanto que as minhas mãos mal conseguem agarrar as correntes que me sustêm no ar. Cresci tanto que a minha visão de tudo se alterou. Cresci tanto que muitas das coisas não passam de recordações. De boas lembranças. De relembrar os bons tempos. Naquela altura, nada mais existia se não a felicidade. Era feliz. Nada me detinha. Nada me entristecia, tirando o facto de não me deixarem brincar. A brincadeira era a minha felicidade. E deveria continuar a ser, mas a vida muda-nos e faz com que as coisas mereçam mais responsabilidade e menos brincadeira. Fecho os olhos e respiro o ar que me passa pela cara. Parece tão distante. Como é que o tempo se apressou mais do que eu? Como é que eu me apressei mais do que aquilo que notei? Como é que as coisas não terminaram, para que eu ainda sinta que há muito a fazer, em relação ao passado? Como é que a vida não pode ser feita das alegrias infantis? Afinal, haverá algo maior e melhor do que isso? A alegria de uma criança. A espontaneidade. A honestidade. A felicidade. O riso. As brincadeiras. Haverá algo melhor do que esses tempos? Hoje, só resto eu e as recordações, daquilo que um dia foi tudo o que eu fazia. Porque é que me permito ter saudades destes momentos? Porque é que a saudade não vai embora? Porque esta saudade dói. Dói saber que o tempo não volta atrás. Dói saber que tudo o que nos resta são lembranças. Dói saber que não voltarei a ser criança. Mas estarei aqui para acompanhar qualquer criança que entre na minha vida e ensinar-lhe a viver ao máximo a infância, porque momentos como esse tempo, não voltam a acontecer. E tu? Há alguma coisa de que tenhas saudades?
Paro lentamente o baloiço. Deixo os meus pés tocarem no chão. Abro os olhos. Permito que as lágrimas escorreguem pela minha face. O que mais dói é que o passado não volta. E é isso que tenho de fixar. O passado não volta.

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