Então?
Por vezes, nem há palavras que expliquem. É como a chuva com sol. Ou o sol com chuva. A lua com o sol. Ou o sol com a lua. São coisas distintas, inexplicáveis... Sinto saudades. Saudades da criança que um dia fui. Se pudesse desejar alguma coisa, talvez desejasse ir ao meu passado. Ao meu bom passado. Revivia cada ida à praia. Cada brincadeira com os colegas de escola. A mudança de casa. A atenção. O carinho. Revivia cada bom momento. Talvez porque, hoje, cheguei à conclusão de que nada volta atrás. Cheguei à conclusão de que aquilo que fomos, jamais voltaremos a ser. Cheguei à conclusão que a melhor parte da vida, talvez já tenha passado por mim e nem dei conta disso. Não anotei cada bom momento. Não anotei o nome de cada pessoa que conheci. Não anotei cada festa que tive. Não anotei nada. E devia tê-lo feito. Anotar o bom. E o mau. Não nos devemos lembrar daquilo que foi mau no nosso passado, mas podemos sempre anotá-lo, numa folha solta, chegar perto dela com um isqueiro ou fósforo e dar-lhe fogo, largando-a, deixando-a ir. Porque o mau do passado é para deixar ir, deixar desaparecer, apagar, queimar. Mesmo que o mau seja aquilo de que mais nos lembraremos, devemos deixá-lo ir. Vamos anotar, então, os bons momentos num caderno, num sítio que jamais possa desaparecer, ser apagado ou destruído. Ensinem os vossos amigos, filhos, netos, primos, amigos, irmãos. Anotem o bom da vida, queimem o mau dela. Vivam de momentos que não têm explicação, de momentos que serão inesquecíveis. Vivam de boas lembranças. Vivam de sorrisos. Vivam de gargalhadas. Vivam daquilo que vale a pena. Vivam do que é bom. Não queiram ser outra pessoa só porque o passado vos traiu. Só porque o passado é uma lástima. Só porque o passado é feito de más recordações. Só porque não fizeram o que queriam ter feito. É agora. Vocês ainda estão aqui. Então? Não fizeram no passado bem, fazem agora. Não fizeram algo, fazem agora. Façam com que este presente se torne no vosso melhor passado. Recordem apenas as boas coisas. As boas companhias. As boas pessoas. As melhores músicas. As melhores danças. As melhores comidas. As melhores prendas. As melhores brincadeiras. Recordem aquilo que vale a pena ser recordado. E não se esqueçam: Anotem o bom, queimem o mau e façam o que sempre tiveram medo de fazer. Porque o medo é o nosso maior inimigo e impede-nos de muita coisa, mas jamais poderá impedir-nos de sermos nós mesmos.
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