A minha cabeça anda a cem.

Neste momento, a minha cabeça anda a cem. Como? Porquê? Nem sei explicar. Nem sei se sei a razão. Tudo o que oiço é a música que soa nos meus fones, mas é tudo uma confusão de palavras. Fecho os olhos e, pela primeira vez, está tudo preto, confuso, meio que desfocado, a fugir para um cinzento, uma sombra de algo. Não sei o que é, nem de onde vem. Isto é estranho, mas sinto-o. Sinto a presença deste sentimento estranho. Fecho os olhos novamente e continua tudo preto, porquê? Porquê se eu não quero que esteja? Olho à minha volta e tenho roupa espalhada na cama, um número infinito de camisolas e umas dez calças diferentes, tenho ainda alguns calções, mas não. Não quero nada daquilo. Olho para o armário e não vejo nada que me agrade. Não há nada que queira vestir. Arrumo tudo novamente, pela vigésima vez, talvez. E fixo o armário repleto de roupa. Não. Não quero vestir nada daquilo. Desvio o meu olhar para outro lado e deparo-me com os meus livros espalhados no chão, juntamente com os cadernos. Há cadernos azuis, cor de laranja, pretos, livros de todas e mais variadas cores, e há folhas. Há folhas escritas por mim, outras são imprimidas, ou fotocopiadas. Há montanhas delas. Pego em cada uma e arrumo-as no seu lugar, dentro de uma capa que guardo no armário. Fecho o armário e quando me volto para me deitar na cama, vejo algo escondido por baixo da almofada, apenas com um canto à vista. Aproximo-me e fecho os olhos, respiro fundo ao tocar naquela mini-revista que sei que vou encontrar. Já sei do que se trata e do que nela está escrito. É aquilo em que eu só deveria pegar daqui a uns meses, mas os meus dedos fazem as suas folhas virarem devagar, enquanto as palavras vão parecendo mais desfocadas. São lágrimas que me molham a face. É o meu destino, numa simples revista, numa informação reduzida a vinte linhas. O meu destino está ali, naquele pedaço de papel. E é aí que sinto. O meu coração bate cada vez mais forte. As lágrimas não têm paragem possível. Os meus dedos estão trémulos. As minhas pernas deixam-me cair em cima da cama. A revista cai a meu lado. E toda eu sou destruição. Naquela pequena revista está o que mais quero e o que mais me aterroriza. E sempre que penso nisso, oiço-me soluçar. É o meu sonho. E tudo depende de mim. Ergo apenas a cabeça, para olhar novamente o papel e só consigo chorar. Vou começar o último período do meu percurso na escola secundária amanhã e tudo é desfocado para mim hoje. Este é o último período e o que vai decidir a minha vida. Tenho notas para subir. Notas para manter. Exames para realizar. Apresentações para fazer. Testes à porta. E tudo está desfocado. Está preto. Não consigo. Tenho medo. E se eu não conseguir? Onde vão parar aquelas palavras no papel? Para que serei feita? De que serei feita se desistir agora? Tenho um mês e catorze dias para dar tudo de mim e isso assusta-me. A minha vida depende de tudo o que se segue. É o meu maior pesadelo que me vai conduzir ao meu sonho. E eu não sei como lidar com isso. A minha cabeça continua a cem. A minha cabeça anda a cem. E eu? Eu ando à minha velocidade e tento não me perder naquele que é e será sempre o meu caminho.

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